OS TIPOS DE AMOR (EM BUSCA DA FELICIDADE)
É
difícil de definir o amor, se pensarmos nas mais diversas conceituações
que recebeu no corre da história humana, principalmente se levarmos em
conta a especificidade desse sentimento, cujo sentido nos escapa. Assim
disse o filosofo francês Roland Barthes: Que é que eu penso do amor? Em
suma, não penso nada. Bem que eu gostaria de saber o que é, mas estando
do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. [...] mesmo
que eu discorresse sobre o amor durante um ano, só poderia esperar
pegar o conceito “pelo rabo; por flashes, formulas, surpresas de
expressão, dispersos pelo grande escoamento do imaginário; estou no mau
lugar do amor, que é seu lugar iluminado: “o lugar mais sombrio, diz um
proverbio chinês, é sempre embaixo da lâmpada.”.
Apesar dessas
dificuldades, tentemos algumas delimitações do conceito. Em primeiro
lugar, na linguagem comum, amor é usado em diversas acepções, desde as
materiais – o amor ao dinheiro – até as religiosas, como o amor a Deus.
Fala-se também do amor à pátria, ao trabalho e à justiça. É bem verdade
que, em algumas dessas acepções, outros termos seriam mais apropriados,
tais como o desejo de posse ao dinheiro, o interesse ou gosto pelo
trabalho, o empenho moral na defesa da justiça e assim por diante.
Para evitar confusões, distinguiremos três tipos de amor: filía, ágape e eros.
a) Filía
O termo grego filía (philia) geralmente é traduzido por “amizade”.
Trata-se do amor vivido na família ou entre os membros de uma
comunidade. Os laços de afeto que o expressam são, em tese, a
generosidade, o desprendimento e a reciprocidade, isto é, a estima
mútua.
Além desse sentido geral, distinguimos a amizade propriamente
dita, quando um vínculo mais forte une pessoas que se escolheram pelo
que cada um é. Por isso Aristóteles explica que “os que desejam bem aos
seus amigos por eles mesmos são os mais verdadeiramente amigos”. E
conclui:
Mas é natural que tais amizades não sejam muito frequentes,
pois que tais homens são raros. Acresce que uma amizade dessa espécie
exige tempo e familiaridade. Como diz o proverbio, os homens não podem
conhecer-se mutuamente enquanto não houverem “provado sal junto”, e
tampouco podem aceitar um ao outro e este não depositar confiança nele.
Os que não tardam a mostrar mutuamente sinais de amizade desejam ser
amigos, mas não o são a menos que ambos sejam estimáveis e o saibam;
porque o desejo da amizade pode surgir depressa, mas a amizade não.
b) Ágape
Ágape, do grego agápe, significa “amor fraterno”. Entre os cristãos
primitivos, terno designava as refeições fraternais, em que se reuniam
ricos e pobres, daí o sentido de “caridade”, de “amar ao próximo como a
si mesmo”.
Esse tipo de amor não supõe reciprocidade, por que se ama
sem esperar retribuição, assim como independe do valor moral do
individuo que é objeto de nossa atenção. Em termos profanos—não mais
religiosos --, trata-se da benevolência universal, a fraternidade pelo
qual zelamos pelos outros.
c) Eros
Eros refere-se às relações que costumamos chamar de amorosas propriamente ditas.
Diferentemente das outras expressões de amor já citadas, a paixão
amorosa está associada á exclusividade e à reciprocidade. Por isso, ao
contrario da tradição, que caracteriza o ser humano apenas como
racional, poderíamos vê-lo também como “ser desejante”, tal é a força
que impulsiona a busca do prazer e da alegria de conquistar o amado.
Esse desejo, porém, não visa apenas a alcançar o outro como objeto. Mais
que isso, busca o reconhecimento do amado, quer capturar sua
consciência, porque o apaixonado deseja o desejo do outro.
É de tal
ordem a força desse impulso que foi necessário o controle dos instintos
agressivos e sexuais, para que a civilização pudesse existir. O mundo
humano organizou-se com a instauração da lei e, consequentemente, com a
interdição, pois as proibições estabelecem regras que tornam possível a
vida em comum.
No entanto, a sexualidade humana não é simplesmente
biológica, não resulta exclusivamente do funcionamento glandular nem se
submete á mera imposição de regras sociais. Embora a atividade sexual
seja comum aos animais, apenas os humanos a vivenciam como erotismo,
como busca psicológica, independentemente do fim natural dado pela
reprodução. A sexualidade humana é portanto a expressão do ser que
deseja, escolhe, ama que se comunica com o mundo e com o outro, numa
linguagem tanto mais humana quanto mais se exprime de maneira pessoal e
única.
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