quarta-feira, 19 de junho de 2013

TEMPOS MODERNOS

 
 
 
O Filme Tempos Modernos (Modern Times) retrata o personagem Carlitos totalmente perdido numa sociedade que apresenta sinais da modernidade. Ele começa o filme trabalhando numa fábrica na qual o presidente os observa atentamente de sua sala através de câmeras.

O trabalho de Carlitos consiste na simples tarefa de apertar parafusos. De acordo com Karl Marx, as condições materiais determinam as formas de pensamento. Ou seja, para ele, Carlitos estaria alienado por não conhecer todo o processo de produção em série e apenas o trabalho de apertar parafusos ao qual fora submetido. Podemos perceber que, até mesmo depois de sair da fábrica, Carlitos continua a apertar parafusos de hidrantes e botões dos vestidos das mulheres que caminham pela rua. Servindo a assim para reforçar ideia de que o trabalho de produção em série torna o sujeito alienado.

Carlitos é tido como louco e é encaminhado a um hospital psiquiátrico. Esta transição da fábrica para o hospício nos remete a transição dos indivíduos dentro das instituições como bem descreve Michel Foucault em seu conceito de sociedade disciplinar.

Segundo Foucault, o poder disciplinar consistia na transição dos cidadãos dentre as mais variadas instituições como a Família, a Escola, o Hospital, a Fábrica e instituição suprema de poder disciplinar, o Presídio.

Esta sociedade disciplinar que, seguindo Foucault, perdurou até meados do século XX, disciplinava seus cidadãos fazendo-os transitar pelas mais diferentes instituições a fim de torná-los corpos dóceis. Ou seja, torná-los moldáveis de acordo com o interesse do Estado.

Porém, depois que deixa o hospício e encontra a fábrica fechada, Carlitos caminha pela rua e encontra uma bandeira que acabara de cair de um caminhão. A bandeira (supostamente vermelha, já que o filme é em preto e branco) reforça a ideia de manifestação comunista. Já que, logo em seguida, juntam-se a Carlitos inúmeros trabalhadores em tom de protesto.

Marx, afirma no Manifesto do Parido Comunista que a revolução é a força motriz para o desenvolvimento histórico da humanidade. E isto só é possível através de luta entre classes. Neste caso, sendo a burguesia, os opressores e o proletariado, os oprimidos. Carlitos, então, é preso como líder comunista e adentra a instituição disciplinar suprema descrita por Foucault, o Presídio.

Depois que cumpre a sua pena e ganha, mais uma vez, a liberdade, Carlitos encontra dificuldades para se estabelecer em algum emprego. Distante do modelo consumista, Carlitos já não sabe mais que rumo tomar e faz de tudo para retornar à prisão. Ele também conhece uma jovem com a qual irá sonhar ter uma casa e constituir uma família. No entanto, como ambos desconhecem os meios de produção da sociedade na qual estão inseridos, eles sonham que a casa ideal terá frutas a serem colhidas pela janela e vaca dando leite à sua porta.

O filme é uma ótima ilustração para questões descritas por Marx e conceitos de Foucault. E que consegue, graças ao brilhantismo do roteiro, atuação e direção de Charles Chaplin, fazer com que questões tão delicadas e pertinentes em nossa sociedade sejam retratadas de forma leve e sutil, mesmo num filme de humor.

EM BUSCA DA FELICIDADE

"Os homens devem cuidar não de suas riquezas, nem de suas honras, mas de si mesmo e de sua alma". Sócrates, citado do livro. "Sexualidade: Cultura, Ética e vida religiosa", 1999.

Atualmente vivemos em uma sociedade na qual o ser humano desesperadamente busca a felicidade, mas desde os primórdios da era humana o homem e a mulher já buscavam a felicidade, pois o homem descobriu que era capaz de gerar cultura e transformar a sociedade e o ambiente em que vive. O ser humano sempre foi insatisfeito e por isso, sente a necessidade de buscar a felicidade. Mas o que é felicidade? O que é realmente ser feliz? Onde o ser humano está buscando a felicidade? No carro, no dinheiro, no prazer exacerbado, na fama, no sucesso, no poder? Onde está a verdadeira felicidade? Eu fico pensando que se a felicidade tende a ser perene, então ela não pode estar nas coisas efêmeras, passageiras e transitórias. Então, onde está a felicidade? Com esses questionamentos meu intuito aqui é que nós possamos refletir um pouco sobre nós mesmos e ver para onde estamos caminhando, onde estamos buscando a felicidade.

Quando passamos em diversos lugares podemos constatar essa busca intensiva da felicidade. É uma verdadeira correria cotidiana. Quer um exemplo: é só darmos uma olhada ao nosso redor. No shopping, nos bares, nos trabalhos, nas ruas, nos pontos de ônibus, todo mundo lutando em busca da conquista de algo que possa trazer-lhe alegria e uma imediata felicidade. Porém, qual o sentido que o ser humano dá a vida? O que nós fazemos com o nosso tempo, aproveitamos ou ele nos domina? No entanto, surge uma pergunta: se a felicidade está no essencial como podemos encontrá-la no supérfluo, no transitório, no fugaz? Onde estamos buscando a felicidade?

Hoje se nota que mais do que nunca se vive uma paixão materialista. Porém, o mundo luta para conquistar coisas que lhe trazem felicidade. Mas essa conquista, exige coragem, bravura e renúncia. E para isso, o homem "deve sair das cavernas das paixões e da obscuridade para vivenciar a luz". As trevas, na qual Platão fala no mito da caverna, pois essas; "são as trevas do comodismo". "A paixão que mata a consciência e destrói a felicidade deve ser alijada e não se mistura com amor. O amor é o sentimento eterno e magnífico. A paixão é o sentimento pobre, passageiro, que colhe migalhas".

Tenho ouvido pessoas falar que faz algo não visando à felicidade, mas pelo seu dever, pois penso que essa afirmação é falsa. Entretanto, acredito que, consciente ou inconsciente toda ação humana tem como objetivo final à felicidade. Pois, "se todas as ações humanas têm como objetivo final à felicidade"; quem não faz algo com o intuito de ser feliz? "Acreditar nas habilidades humanas de construir uma convivência justa e feliz não é simples e nem tampouco tarefa para pessoas superficiais, que apenas assistem ao espetáculo cambiante das ações humanas, tendo a oportunidade de ora vaiar, ora ser aplaudida. Fazem isso, mas não sobem ao palco, porque tem medo de serem aplaudidas ou vaiadas".

Mas o que é realmente ser feliz? O que é preciso para ser feliz? Onde estamos buscando a felicidade? Nas coisas passageiras que o mundo nos oferece, no prazer desordenado, no materialismo? Se isso são coisas supérfluas, efêmeras e a felicidade está no essencial, será que encontraremos a felicidade? Mas então, o que é preciso para ser feliz? Essa pergunta grita no interior de muitas pessoas e muita das vezes se reflete intensamente no exterior humano, em busca da felicidade nas drogas, no sexo exacerbado, na prostituição, no alcoolismo, no vandalismo, na marginalização, etc. Mas o que é preciso para ser feliz?

O ser humano procura encontrar Deus através da fé, mas pode encontrá-lo também através da razão. Quando o homem ou a mulher procura Deus busca a vida feliz, porque só em Deus está a suprema felicidade. Dizia santo Agostinho: "Quando encontrei a verdade, encontrei o meu Deus". O ser humano está sempre em busca da felicidade. Se ele está, ele procura Deus, se ele busca Deus e somente em Deus está a felicidade, somente em Deus ele será feliz. "Minha alma está inquieta, enquanto não repousar em vós", dizia Santo Agostinho. Por isso, todo aquele que procura Deus, procura a verdadeira felicidade e longe de Deus o homem e a mulher não será feliz, será sempre inquieto, será sempre um peregrino que não vê sentido em seu caminhar, haja vista que todo mundo quer ser feliz. Por isso, o homem estará inquieto enquanto não repousar em Deus.

Deus habita na alma do ser humano, no íntimo do seu ser. "Procurar-vos-ei para que minha alma viva". Portanto, Deus é a vida de nossa vida. O corpo do ser humano vive de sua alma, por conseguinte sua alma vive de Deus. Deus habita o nosso coração. Se nós buscamos a Deus buscamos a felicidade e se Deus habita o nosso coração, somente lá encontraremos a plena felicidade. Então quem se volta para si, para sua interioridade, quem busca a vida interior, está em busca da felicidade.
A felicidade é inerente ao ser humano, todo homem e toda mulher quer ser feliz e busca ser feliz. Mas muitos não encontram porque vivem longe de si mesmos, ou seja, vivem procurando fora, enquanto a felicidade está dentro de nós, fora de nós só existe o vazio, a ilusão e fantasia. Por isso, que Santo Agostinho dizia: "Eis que tu estavas dentro de mim e eu te procuravas do lado de fora". Mas como procurar essa felicidade? Procurando Deus através da fé e da razão em nosso interior, em nossa alma. Não alcançarei enquanto não exclamar: basta, ei-la. Mas onde poderei dizer estas palavras? Poderemos dizer estas palavras somente quando nós nos encontrarmos face a face com o Senhor. A nossa vida é passageira, transitória e Deus mora na eternidade e somente quando nós nos encontrarmos com Deus face a face poderemos dizer: basta, eila, ou seja, eis aqui a verdadeira e eterna felicidade.

Penso que é preciso "amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, viver como Jesus viveu", enfim, seguir os exemplos de Jesus Cristo. Principalmente na sociedade em que vivemos que cada vez mais aumenta a injustiça, a falta de respeito e dignidade para com os outros. Pois, é necessário assumir e por em ação os valores e a ética de Jesus. Pois a "ética é o grande caminho para o encontro com a felicidade. Pois ninguém é feliz se não faz feliz o outro". Encontrar-se com Deus é encontrar-se com o outro.

Portanto, ser feliz é amar o outro de puro coração sem exigir nada em troca, é amar sem se deixar sufocar, é ser livre, é não se escravizar e nem escravizar o outro, é certamente amar como Jesus amou, pois o verdadeiro amor jamais escraviza, jamais oprime e jamais engana. Pois ser feliz é buscar a felicidade e não ter medo de renunciar o supérfluo, o efêmero para encontrar o essencial, o eterno. Devemos acreditar numa sociedade mais humana, justa e feliz. Todavia, onde estamos buscando a felicidade? Enfim, concluo com está frase de Gabriel Chalita: "Acreditar é um nunca deixar de ter esperança. É lançar-se e entender que somente na insegurança do vôo a águia prova que pode ser feliz. Eis nosso sonho. Eis nossa ação". Eis nosso desafio. Que Deus nos conceda a graça de sermos corajosos e lutar pela nossa felicidade e pela dos outros, cada um a partir de sua própria vocação. E juntos seremos felizes, nós e muito mais gente.

Nilton Gonçalves Menezes.

PRAGMATISMO, TRANSCENDÊNCIA E SEMIÓTICA

Pragmatismo:

O Pragmatismo constitui uma escola de filosofia, com origens nos Estados Unidos da América, caracterizada pela descrença no fatalismo e pela certeza de que só a ação humana, movida pela inteligência e pela energia, pode alterar os limites da condição humana.O Pragmatismo aborda o conceito de que o sentido de tudo está na utilidade – ou efeito prático – que qualquer ato, objeto ou proposição possa ser capaz de gerar. Uma pessoa pragmática vive pela lógica de que as ideias e atos de qualquer pessoa somente são verdadeiros se servem à solução imediata de seus problemas.

Transcendência:

A Transcendência é fazer um caminho ou percurso para o mais além do meu eu humano; é viajar pelo saber das outras realidades que nunca tinha passado pela mente do próprio sujeito em estudo, mas para o seu objeto, isto é, a realidade do que está a ser estudada; é descobrir aquilo que era o desconhecido; é largar-se do meu egocentrismo para conviver com os outros; é dar a vida para outra pessoa, e por aí fora.

Semiótica:

A semiótica provém da raiz grega ‘semeion’, que denota signo. Assim, desta mesma fonte, temos ‘semeiotiké’, ‘a arte dos sinais’. Esta esfera do conhecimento existe há um longo tempo, e revela as formas como o indivíduo dá significado a tudo que o cerca. Ela é, portanto, a ciência que estuda os signos e todas as linguagens e acontecimentos culturais como se fossem fenômenos produtores de significado, neste sentido define a semiose.
Ela lida com os conceitos, as idéias, estuda como estes mecanismos de significação se processam natural e culturalmente. Ao contrário da lingüística, a semiótica não reduz suas pesquisas ao campo verbal, expandindo-o para qualquer sistema de signos – Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Moda, Gestos, Religião, entre outros.

TRABALHO, ALIENAÇÃO E CONSUMO


Alienação é a condição psico-sociológica de perda da identidade individual ou coletiva decorrente de uma situação global de falta de autonomia. Encerra portanto uma dimensão objetiva -- a realidade alienante -- e a uma dimensão subjetiva -- o sentimento do sujeito privado de algo que lhe é próprio.

Trabalho alienado
Será que o trabalho aliena o indivíduo? Para Marx existe sim o trabalho alienado. Este seria o trabalho que a sociedade industrial criou, a sociedade dominada pela produção de mercadorias. O trabalho que rompe a ligação entre o homem e sua atividade vital.

Consumo é o ato de a sociedade adquirir algo para atender as suas necessidades e seus desejos. Quando a pessoa compra de uma forma para aliviar sua ansiedade ou compra exageradamente e muitas vezes nem utiliza o produto, a pessoa se torna alienada. Oneomania é uma doença que atinge principalmente as mulheres, alguns dos sintomas que possam detectar a doença é o fato de a pessoa querer comprar tudo o que vê pela frente, se tornando viciado (a) em compras. As empresas devem estar sempre atentas e inovando a cada dia para atender as necessidades e os desejos de seus clientes.

OS TIPOS DE AMOR (EM BUSCA DA FELICIDADE)

É difícil de definir o amor, se pensarmos nas mais diversas conceituações que recebeu no corre da história humana, principalmente se levarmos em conta a especificidade desse sentimento, cujo sentido nos escapa. Assim disse o filosofo francês Roland Barthes: Que é que eu penso do amor? Em suma, não penso nada. Bem que eu gostaria de saber o que é, mas estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. [...] mesmo que eu discorresse sobre o amor durante um ano, só poderia esperar pegar o conceito “pelo rabo; por flashes, formulas, surpresas de expressão, dispersos pelo grande escoamento do imaginário; estou no mau lugar do amor, que é seu lugar iluminado: “o lugar mais sombrio, diz um proverbio chinês, é sempre embaixo da lâmpada.”.
Apesar dessas dificuldades, tentemos algumas delimitações do conceito. Em primeiro lugar, na linguagem comum, amor é usado em diversas acepções, desde as materiais – o amor ao dinheiro – até as religiosas, como o amor a Deus. Fala-se também do amor à pátria, ao trabalho e à justiça. É bem verdade que, em algumas dessas acepções, outros termos seriam mais apropriados, tais como o desejo de posse ao dinheiro, o interesse ou gosto pelo trabalho, o empenho moral na defesa da justiça e assim por diante.
Para evitar confusões, distinguiremos três tipos de amor: filía, ágape e eros.

a) Filía
O termo grego filía (philia) geralmente é traduzido por “amizade”. Trata-se do amor vivido na família ou entre os membros de uma comunidade. Os laços de afeto que o expressam são, em tese, a generosidade, o desprendimento e a reciprocidade, isto é, a estima mútua.
Além desse sentido geral, distinguimos a amizade propriamente dita, quando um vínculo mais forte une pessoas que se escolheram pelo que cada um é. Por isso Aristóteles explica que “os que desejam bem aos seus amigos por eles mesmos são os mais verdadeiramente amigos”. E conclui:
Mas é natural que tais amizades não sejam muito frequentes, pois que tais homens são raros. Acresce que uma amizade dessa espécie exige tempo e familiaridade. Como diz o proverbio, os homens não podem conhecer-se mutuamente enquanto não houverem “provado sal junto”, e tampouco podem aceitar um ao outro e este não depositar confiança nele. Os que não tardam a mostrar mutuamente sinais de amizade desejam ser amigos, mas não o são a menos que ambos sejam estimáveis e o saibam; porque o desejo da amizade pode surgir depressa, mas a amizade não.

b) Ágape
Ágape, do grego agápe, significa “amor fraterno”. Entre os cristãos primitivos, terno designava as refeições fraternais, em que se reuniam ricos e pobres, daí o sentido de “caridade”, de “amar ao próximo como a si mesmo”.
Esse tipo de amor não supõe reciprocidade, por que se ama sem esperar retribuição, assim como independe do valor moral do individuo que é objeto de nossa atenção. Em termos profanos—não mais religiosos --, trata-se da benevolência universal, a fraternidade pelo qual zelamos pelos outros.

c) Eros
Eros refere-se às relações que costumamos chamar de amorosas propriamente ditas.
Diferentemente das outras expressões de amor já citadas, a paixão amorosa está associada á exclusividade e à reciprocidade. Por isso, ao contrario da tradição, que caracteriza o ser humano apenas como racional, poderíamos vê-lo também como “ser desejante”, tal é a força que impulsiona a busca do prazer e da alegria de conquistar o amado. Esse desejo, porém, não visa apenas a alcançar o outro como objeto. Mais que isso, busca o reconhecimento do amado, quer capturar sua consciência, porque o apaixonado deseja o desejo do outro.
É de tal ordem a força desse impulso que foi necessário o controle dos instintos agressivos e sexuais, para que a civilização pudesse existir. O mundo humano organizou-se com a instauração da lei e, consequentemente, com a interdição, pois as proibições estabelecem regras que tornam possível a vida em comum.
No entanto, a sexualidade humana não é simplesmente biológica, não resulta exclusivamente do funcionamento glandular nem se submete á mera imposição de regras sociais. Embora a atividade sexual seja comum aos animais, apenas os humanos a vivenciam como erotismo, como busca psicológica, independentemente do fim natural dado pela reprodução. A sexualidade humana é portanto a expressão do ser que deseja, escolhe, ama que se comunica com o mundo e com o outro, numa linguagem tanto mais humana quanto mais se exprime de maneira pessoal e única.

FILOSOFAR É APRENDER A MORRER...

Michel de Montaigne
Diz Cícero que filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte. Isso, talvez, porque o estudo e a contemplação tiram a alma para fora de nós, separam-na do corpo, o que, em suma, se assemelha à morte e constitui como que um aprendizado em vista dela. Ou então é porque, de toda sabedoria e inteligência, resulta finalmente que aprendemos a não ter receio de morrer. Em verdade, ou nossa razão falha ou seu objetivo único deve ser a nossa própria satisfação, e seu trabalho tender para que vivamos bem, e com alegria, como recomenda a Sagrada Escritura [Eclesiastes 3,12:“Então compreendi que não existe para o homem nada melhor do que se alegrar e agir bem durante a vida”]. 
Todas as opiniões propõem que o prazer é a meta da vida, mas diferem no que concerne aos meios de atingir o alvo. E, se assim não fosse, as repeliríamos de imediato, pois quem daria ouvido a alguém que apontasse a pena e o sofrimento como os objetivos da existência? A esse respeito, as dissensões entre seitas filosóficas são puro palavrório: “deixemos de lado essas sutilezas” (Sêneca); em tais discussões entra mais obstinação e picuinha do que convém à ciência tão respeitável. Mas em qualquer papel que se proponha desempenhar põe o homem um pouco de si mesmo.
 Digam o que disserem, na própria prática da virtude o fim visado é a volúpia. E agrada-me repetir essa palavra que pronunciam constrangidos. E, se significa prazer supremo e extremada satisfação, melhor se deva ela à virtude do que a qualquer outra causa, pois volúpia, robusta e viril, é a mais seriamente voluptuosa. E deveríamos chamá-la prazer, denominação mais feliz e mais natural, do que a de vigor que lhe damos. Quanto à volúpia de ordem menos elevada, se acreditam que mereça igual nome, que o mantenham, mas não com exclusividade. Mais do que a virtude, tem ela seus inconvenientes e seus momentos difíceis; além de serem mais efêmeras as sensações que nos procura, e mais fluidas e fugidias, tem suas vigílias, seus jejuns, suas penas, seu suor e sangue. Paixões de toda sorte influem nela, e redunda ela em tão pesada saciedade, que equivale a uma penitência. É erro nosso imaginar que tais inconvenientes a estimulam, e a condimentam, em razão dessa lei da natureza que afirma tudo se fortalecer ante o obstáculo encontrado; e erro é também pensar que, quando se trata de volúpia proveniente da virtude, semelhantes dificuldades a acabrunham e a tornam austera e inacessível.

NICOLAU MAQUIAVEL








Nicolau Maquiavel foi um importante historiador, diplomata, filósofo, estadista e político italiano da época do Renascimento. Nasceu na cidade italiana de Florença em 3 de maio de 1469 e morreu, na mesma cidade, em 21 de junho de 1527.

Vida e obras 
Filho de pais pobres, Maquiavel desde cedo se interessou pelos estudos. Aos sete anos de idade começou a aprender latim. Logo depois passou a estudar ábaco e língua grega antiga.
Aos 29 anos de idade, ingressou na vida política, exercendo o cargo de secretário da Segunda Chancelaria da República de Florença. Porém, com a restauração da família Médici ao poder, Maquiavel foi afastado da vida pública. Nesta época, passou a dedicar seu tempo e conhecimentos para a produção de obras de análise política e social.
Em 1513, escreveu sua obra mais importante e famosa “O Príncipe”. Nesta obra, Maquiavel aconselha os governantes como governar e manter o poder absoluto, mesmo que tenha que usar a força militar e fazer inimigos. Esta obra, que tentava resgatar o sentimento cívico do povo italiano, situava-se dentro do contexto do ideal de unificação italiana. 
Entre os anos de 1517 e 1520, escreveu “A arte da guerra”, um dos livros menos lidos do autor. 
Em 1520, Maquiavel foi indicado como o principal historiador de Florença.
Nos “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, de 1513 a 1521, Maquiavel defende a forma de governo republicana com uma constituição mista, de acordo com o modelo da República de Roma Antiga. Defende também a necessidade de uma cultura política sem corrupção, pautada por princípios morais e éticos.
O termo “maquiavélico”
Em função das idéias defendidas no livro “O Príncipe”, o termo “maquiavélico” passou a ser usado para aquelas pessoas que praticam atos desleais (até mesmo violentos) para obter vantagens, manipulando as pessoas. Este termo é injustamento atribuído a Maquiavel, pois este sempre defendeu a ética na política.
Frases de Maquiavel

- "Os homens ofendem mais aos que amam do que aos que temem." 
- "O desejo de conquista é algo natural e comum; aqueles que obtêm sucesso na conquista são sempre louvados, e jamais censurados; os que não têm condições de conquistar, mas querem fazê-lo a qualquer custo, cometem um erro que merece ser recriminado." 
- "Nada faz o homem morrer tão contente quanto o recordar-se de que nunca ofendeu ninguém, mas, antes, ajudou a todos." 
- "Quem do prazer se priva e vive entre tormentos e fadigas, do mundo não conhece os enganos." 
- "Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos." 
- "A ambição é uma paixão tão forte no coração do ser humano, que, mesmo que galguemos as mais altas posições, nunca nos sentimos satisfeitos." 
- "Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição." 
- "O homem que tenta ser bondoso todo tempo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons." 
- "O homem esquece de forma mais fácil a morte do pai do que a perda do patrimônio". 
- "Na política, os aliados atuais são os inimigos de amanhã."

JEAN JACQUES ROUSSEAU








Bem no início do "Contrato Social", Rousseau afirma que "o homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros". Discutindo esse fato, o filósofo criou uma das obras fundamentais da filosofia política ocidental.

Jean-Jacques Rousseau perdeu a mãe ao nascer e foi educado por um pastor protestante na cidade de Bossey (Suíça). Voltou para Genebra e ali exerceu vários ofícios, entre eles o de gravador. Foi ainda professor de música em Lausanne (também na Suíça).

Tornando-se amante de madame de Warens, viveu com ela em Chambery (França) até 1740.

Em 1742, estabeleceu-se em Paris, onde fez amizade com os filósofos iluministas (os chamados "philosophes"), entre os quais estavam Diderot e Condillac. Colaborou na "Enciclopédia" (coordenada por Diderot), escrevendo diversos verbetes. Ainda em Paris, uniu-se a Thérèse Levasseur, com quem viveu muitos anos.

Em 1749, a Academia de Dijon propôs um prêmio para quem respondesse à seguinte questão: "O estabelecimento das ciências e das artes terá contribuído para aprimorar os costumes?" Em consequência do que ele mesmo considerou uma iluminação, Rousseau escreveu o "Discurso Sobre as Ciências e as Artes", tratando já da maioria dos temas importantes em sua filosofia e respondendo negativamente àquela pergunta. Em julho do ano seguinte, recebeu o primeiro prêmio: uma medalha de ouro e 300 libras francesas.

Com a publicação dessa obra, Rousseau conquistou reconhecimento. Seguiram-se anos de grande atividade reflexiva. Em 1755, publicou-se o "Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens". Em 1761, veio à luz "A Nova Heloísa", romance epistolar que obteve grande sucesso. No ano seguinte, saíram duas de suas obras mais importantes: o ensaio "Do Contrato Social" e o tratado pedagógico "Emílio, ou da Educação".

Em 1762, Rousseau foi perseguido por conta de suas obras, consideradas ofensivas à moral e à religião, e obrigado a exilar-se em Neuchâtel (Suíça). Três anos depois, partiu para a Inglaterra, a convite do filósofo David Hume.

Retornando para a França em 1767, casou-se finalmente com Thérèse Levasseur.

Além de escritor e filósofo, Rousseau foi um apaixonado por música. Estudou teoria musical, escreveu duas óperas ("As Musas Galantes" e "O Adivinho da Aldeia") e publicou um "Dicionário de Música".

Em seus últimos anos, viveu sob a proteção do marquês de Girardin, no castelo de Ermenonville, na França. Em 1776, publicou experiências, reflexões e sensações no livro "Os Devaneios de um Caminhante Solitário".

Ao morrer, Jean-Jacques Rousseau deixou vasta obra, cujo valor vem sendo permanentemente redescoberto. Suas últimas experiências estão registradas nas "Confissões", obra publicada postumamente.
 

JOHN LOCKE





Considerado um dos mais importantes pensadores da doutrina liberal, John Locke nasceu em 1632, na cidade de Wrington, Somerset, região sudoeste da Inglaterra. Era filho de um pequeno proprietário de terras que serviu como capitão da cavalaria do Exército Parlamentar. Mesmo tendo origem humilde, seus pais tiveram a preocupação de dar ao jovem Locke uma rica formação educacional que o levou ao ingresso na academia científica da Sociedade Real de Londres.

Antes desse período de estudos na Sociedade Real, Locke já havia feito vários cursos e freqüentado matérias que o colocaram em contato com diversas áreas ligadas às Ciências Humanas. Refletindo a possibilidade de integração dos saberes, o jovem inglês nutriu durante toda a sua vida um árduo interesse por áreas distintas do conhecimento humano. Apesar de todo esse perfil delineado, não podemos sugerir que Locke sempre teve tendências de faceta liberal.

Quando começou a se interessar por assuntos políticos, Locke inicialmente defendeu a necessidade de uma estrutura de governo centralizada que impedisse a desordem no interior da sociedade. Sua visão conservadora e autoritária se estendia também ao campo da religiosidade, no momento em que ele acreditava que o monarca deveria interferir nas opções religiosas de seus súditos. Contudo, seu interesse pelo campo da filosofia modificou paulatinamente suas opiniões.

Um dos pontos fundamentais de seu pensamento político se transformou sensivelmente quando o intelectual passou a questionar a legitimidade do direito divino dos reis. A obra que essencialmente trata desse assunto é intitulada “Dois Tratados sobre o Governo” e foi publicada nos finais do século XVII. Em suas concepções, Locke defendia o estabelecimento de práticas políticas que não fossem contras as leis naturais do mundo.

Além disso, esse proeminente pensador observou muitos de seus interesses no campo político serem tematizados no interior de seu país quando presenciou importantes acontecimentos referentes à Revolução Inglesa. Em sua visão, um poder que não garantisse o direito à propriedade e à proteção da vida não poderia ter meios de legitimar o seu exercício. Ainda sob tal aspecto, afirmou claramente que um governo que não respeitasse esses direitos deveria ser legitimamente deposto pela população.

No que se refere à propriedade, Locke se utiliza de argumentos de ordem teológica para defender a sua própria existência. Segundo ele, o mundo e o homem são frutos do trabalho divino e, por isso, devem ser vistos como sua propriedade. Da mesma forma, toda riqueza que o homem fosse capaz de obter por meio de seu esforço individual deveriam ser, naturalmente, de sua propriedade.

Interessado em refletir sobre o processo de obtenção do conhecimento e a importância da educação para o indivíduo, Locke foi claro defensor do poder transformador das instituições de ensino. De acordo com seus ensaios, o homem nascia sem dominar nenhuma forma de conhecimento e, somente com o passar dos anos, teria a capacidade de acumulá-lo. A partir dessa premissa é que o autor britânico acreditava que as mazelas eram socialmente produzidas e poderiam ser superadas pelo homem.

O reconhecimento do legado de Locke ocorreu quando ele ainda era vivo. Durante a vida, teve a oportunidade de ocupar importantes cargos administrativos e exerceu funções de caráter diplomático. Na Inglaterra, chegou a ocupar o cargo de membro do Parlamento e defendeu o direito dessa instituição indicar os ministros que viessem a compor o Estado. Respeitado por vários outros representantes do pensamento liberal, John Locke faleceu em 1704, na cidade de Oates, Inglaterra.

THOMAS HOBBES

Thomas Hobbes foi um filósofo que nasceu (em Wesport 5/4/1588) e faleceu na Inglaterra (em Hardwick Hall, 4/12/1679). Hobbes ficou sob os cuidados do seu tio, visto que seu pai, um vigário, teve de ir embora depois de participar de uma briga na porta da igreja onde trabalhava. Estudou em Magdalen Hall de Oxford e, em 1608, foi trabalhar com a família Cavendish como mentor de um de seus filhos, a quem acompanhou pelas suas viagens pela França e Itália entre 1608 e 1610. Quando seu aluno morreu, em 1628, voltou à França, desta vez para se tutor do filho de Gervase Clifton. Permaneceu na França até 1631, quando os Cavendish o solicitaram novamente para ser mentor de outro dos seus filhos. Em 1634, acompanhado de seu novo aluno, realizou outra viagem ao continente, ocasião que aproveitou para conversar com Galileu Galilei e outros pensadores e cientistas da época. Em 1637, voltou à Inglaterra, mas a situação política, que anunciava a guerra civil, o levou a abandonar seu país e a estabelecer-se em Paris em 1640.
Pouco tempo antes, Hobbes tinha feito circular entre seus amigos um exemplar manuscrito de sua obra: Elementos da lei natural e política, apresentados em dois tratados distintos, foram editados em 1650. Em 1651, abandonou a França e voltou à Inglaterra, levando consigo o manuscrito do Leviatã, sua obra mais conhecida e que seria editada em Londres, naquele ano.
Os contatos que Hobbes teve com cientistas de sua época, que foram decisivos para a formação de suas ideias filosóficas, o levaram a fundir sua preocupação com problemas sociais e políticos com seu interesse pela geometria e o pensamento dos filósofos mecanicistas. Seu pensamento político pretende ser uma aplicação das leis da mecânica aos campos da moral e da política. As leis que regem o comportamento humano, segundo Hobbes, são as mesmas que regem o universo e são de origem divina. De acordo com elas, o homem em estado natural é antissocial por natureza e só se move por desejo ou medo. Sua primeira lei natural, que é a autoconservação, o induz a impor-se sobre os demais, de onde vem uma situação de constante conflito: a guerra de todos contra todos, na qual o homem é um lobo para o homem.
Para poder construir uma sociedade é necessário, portanto, que cada indivíduo renuncie a uma parte de seus desejos e chegue a um acordo mútuo de não aniquilação com os outros. Trata-se de estabelecer um contrato social, de transferir os direitos que o homem possui naturalmente sobre todas as coisas em favor de um soberano dono de direitos ilimitados. Este monarca absoluto, cuja soberania não reside no direito divino, mas nos direitos transferidos, seria o único capaz de fazer respeitar o contrato social e garantir, desta forma, a ordem e a paz, exercendo o monopólio da violência que, assim, desapareceria da relação entre indivíduos.
Em 1655, publicou a primeira parte dos Elementos de filosofia e, em 1658, a segunda parte. Durante os últimos anos de sua vida, fez uma tradução em verso da Ilíada e da Odisséia e escreveu uma autobiografia em versos latinos.